terça-feira, 3 de outubro de 2017

Helena e o labirinto de história


Eles haviam acabado de se mudar. O pai de Helena tinha sido transferido para outra cidade e agora a vida da garota de onze anos teria um novo rumo.  Ela estava muito ansiosa e preocupada com a mudança, principalmente porque havia deixado todos os seus amigos para trás. Mas quando entrou na nova casa e abriu uma porta – que mais parecia uma porta secreta, pois estava escondida no porão escuro – sua tristeza se transformou em uma agradável surpresa. Descobriu que ali havia uma biblioteca que, apesar de pequena, estava lotada de livros. "Será que o antigo dono desta casa era um leitor apaixonado por livros, assim como eu", perguntou-se a menina. "Mas então, por que será que ele não os levou consigo? Talvez tenha ficado muito velho para ler. Ou, quem sabe, já tenha morrido...".

Na companhia de Loice, sua gatinha preta, Helena começou a folhar, deslumbrada, os livros daquele lugar que a partir de agora seria seu canto favorito daquela casa, ainda estranha para a menina. Enquanto ela estava distraída olhando as capas de uma coleção de obras de suspense, Loice viu uma borboletinha e começou a segui-la, tentando agarrá-la com a patinha. Até que, numa dessas tentativas, a gatinha acabou empurrando a porta da biblioteca, que bateu com tanta força, que fez Helena levar um susto e deixar cair o livro que estava lendo.

Quando a menina foi reabrir a porta, percebeu que estavam trancadas dentro do recinto mal iluminado. E agora? Helena teria que encontrar uma maneira de sair. Gritar por ajuda não resolveria, pois seus pais avisaram que ela ficaria sozinha até o anoitecer. Será que haveria, então, alguma chave perdida entre aqueles inúmeros livros? Apressadamente, começou afastá-los e procurar uma forma de escapar dali.

Até que olhou para cima e percebeu que, na parte mais alta da estante, havia algo brilhando. Parecia um pequeno objeto dourado e cintilante. “Uma chave!”, pensou a menina. Subiu na cadeira para alcançá-la, mas ao tocar naquilo – que, de fato, era uma chave –, viu que o objeto lhe escapou das mãos e saiu voando. Isso mesmo: voando. Helena adorava histórias fantásticas, mas nunca havia lido nenhuma que falasse de chaves voadoras, feitas de ouro e asas de penas douradas.

Num instante, a chave voou para dentro de um dos livros da parte superior da estante. Agora Helena só precisaria abrir com cuidado e agarrar aquela chave pássaro. E foi o que fez. Ergueu o braço e, delicadamente, retirou o livro, que tinha uma de capa roxa com o desenho de uma enorme chave dourada de asas. Quando abriu, lentamente, com medo de que a chave fugisse voando, Helena teve outra surpresa: o objeto mágico não estava mais ali. “Mas eu tenho certeza de que ela entrou aqui e não saiu mais… que coisa estranha”, refletiu a garota. Muito curiosa, ela desceu da cadeira e começou a ler aquela misteriosa obra que provavelmente guardava importantes segredos. Quem sabe até ajudasse Helena a descobrir como sair daquele lugar.

Na primeira página, a frase “pergunte-me e saberás” estava em letras grandes e escritas com uma tinta que parecia reluzir como ouro, destacando-se do resto do texto. Helena ficou intrigada com aquilo e, um pouco sem jeito, resolveu testar o livro e fazer-lhe uma pergunta para ver se alguma coisa aconteceria. “Querido livro roxo”, disse em voz alta. “Sabes quem sou eu?”. Nada aconteceu, para a decepção da menina.

Então, Helena resolveu abrir em uma página qualquer. Eis que, na primeira linha, estava escrito, com aquela tinta reluzente: Você é a Helena, tem onze anos e adora ler, assim como o meu antigo dono. “O quê?”, pensou Helena. “Isso deve ser só uma coincidência”. Mas, desconfiada, resolveu fazer mais uma pergunta: “O que você sabe sobre minha gata?”. Então ela abriu em uma página aleatória e ali estava escrito: Loice, a gatinha preta, foi adotada por uma adorável menina depois de ter sido abandonada quando filhote. Agora ela não tinha dúvida: aquele era, realmente, um livro mágico.

Assim que descobriu a preciosidade que tinha nas mãos, ela se apressou em perguntar: “Como faço para sair dessa biblioteca?”. Na primeira página que abriu, estava escrito: Acerte essa charada: uma menina faz uns amigos nada comuns. Um espeta, um é macio e um é duro. É este último que guarda a chave mágica. A garota achou aquela charada um pouco estranha, mas pareceu uma história familiar. Nem foi preciso quebrar a cabeça: ela logo lembrou do Mágico de Oz.

E disse: "Será que é este livro que preciso encontrar?". Mas antes, resolveu dar mais uma folheada em seu livro. E então descobriu que ali havia várias histórias clássicas. A primeira que viu foi Alice no País das Maravilhas. Depois viu que poderia ler ali O Três Porquinho. A historia seguinte era Peter Pan. Pareciam historias demais para caber naquele único livro. Mas não esqueçam: ele era mágico. finalmente, Helena chegou na página do Mágico de Oz.

Ela foi folheando até que aparecesse a imagem do Homem de Lata. E qual a surpresa da menina quando viu que na sua mão havia uma chave dourada. "E agora? Como irei tirar essa chave da história?", pensou, tocando na chave desenhada. Assim que seu dedinho encostou na ilustração, a chave libertou-se das mãos do Homem de Lata e começou a bater suas asinhas. Helena, desesperada, achou que a chave fugiria para dentro de algum outro livro e, num impulso, gritou: "Espere! Você precisa me tirar daqui". E a chave, como se tivesse ouvidos, foi direto até a porta, que abriu-se lentamente.


A menina, enfim, estava livre. Ela havia descoberto mais que uma forma de sair da biblioteca: agora ela tinha um esconderijo perfeito, um livro mágico, uma chave voadora e infinitas histórias para conhecer.

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