Eles haviam acabado de se
mudar. O pai de Helena tinha sido transferido para outra cidade e agora a vida
da garota de onze anos teria um novo rumo.
Ela estava muito ansiosa e preocupada com a mudança, principalmente porque
havia deixado todos os seus amigos para trás. Mas quando entrou na nova casa e
abriu uma porta – que mais parecia uma porta secreta, pois estava escondida no
porão escuro – sua tristeza se transformou em uma agradável surpresa. Descobriu
que ali havia uma biblioteca que, apesar de pequena, estava lotada de livros.
"Será que o antigo dono desta casa era um leitor apaixonado por livros,
assim como eu", perguntou-se a menina. "Mas então, por que será que
ele não os levou consigo? Talvez tenha ficado muito velho para ler. Ou, quem
sabe, já tenha morrido...".
Na companhia de Loice,
sua gatinha preta, Helena começou a folhar, deslumbrada, os livros daquele
lugar que a partir de agora seria seu canto favorito daquela casa, ainda
estranha para a menina. Enquanto ela estava distraída olhando as capas de uma
coleção de obras de suspense, Loice viu uma borboletinha e começou a segui-la,
tentando agarrá-la com a patinha. Até que, numa dessas tentativas, a gatinha
acabou empurrando a porta da biblioteca, que bateu com tanta força, que fez
Helena levar um susto e deixar cair o livro que estava lendo.
Quando a menina foi
reabrir a porta, percebeu que estavam trancadas dentro do recinto mal
iluminado. E agora? Helena teria que encontrar uma maneira de sair. Gritar por
ajuda não resolveria, pois seus pais avisaram que ela ficaria sozinha até o
anoitecer. Será que haveria, então, alguma chave perdida entre aqueles inúmeros
livros? Apressadamente, começou afastá-los e procurar uma forma de escapar
dali.
Até que olhou para cima e
percebeu que, na parte mais alta da estante, havia algo brilhando. Parecia um
pequeno objeto dourado e cintilante. “Uma chave!”, pensou a menina. Subiu na
cadeira para alcançá-la, mas ao tocar naquilo – que, de fato, era uma chave –,
viu que o objeto lhe escapou das mãos e saiu voando. Isso mesmo: voando. Helena
adorava histórias fantásticas, mas nunca havia lido nenhuma que falasse de
chaves voadoras, feitas de ouro e asas de penas douradas.
Num instante, a chave
voou para dentro de um dos livros da parte superior da estante. Agora Helena só
precisaria abrir com cuidado e agarrar aquela chave pássaro. E foi o que fez.
Ergueu o braço e, delicadamente, retirou o livro, que tinha uma de capa roxa
com o desenho de uma enorme chave dourada de asas. Quando abriu, lentamente,
com medo de que a chave fugisse voando, Helena teve outra surpresa: o objeto
mágico não estava mais ali. “Mas eu tenho certeza de que ela entrou aqui e não
saiu mais… que coisa estranha”, refletiu a garota. Muito curiosa, ela desceu da
cadeira e começou a ler aquela misteriosa obra que provavelmente guardava
importantes segredos. Quem sabe até ajudasse Helena a descobrir como sair
daquele lugar.
Na primeira página, a
frase “pergunte-me e saberás” estava em letras grandes e escritas com uma tinta
que parecia reluzir como ouro, destacando-se do resto do texto. Helena ficou
intrigada com aquilo e, um pouco sem jeito, resolveu testar o livro e fazer-lhe
uma pergunta para ver se alguma coisa aconteceria. “Querido livro roxo”, disse
em voz alta. “Sabes quem sou eu?”. Nada aconteceu, para a decepção da menina.
Então, Helena resolveu
abrir em uma página qualquer. Eis que, na primeira linha, estava escrito, com
aquela tinta reluzente: Você é a Helena, tem onze anos e adora ler, assim como
o meu antigo dono. “O quê?”, pensou Helena. “Isso deve ser só uma
coincidência”. Mas, desconfiada, resolveu fazer mais uma pergunta: “O que você
sabe sobre minha gata?”. Então ela abriu em uma página aleatória e ali estava
escrito: Loice, a gatinha preta, foi adotada por uma adorável menina depois de
ter sido abandonada quando filhote. Agora ela não tinha dúvida: aquele era,
realmente, um livro mágico.
Assim que descobriu a
preciosidade que tinha nas mãos, ela se apressou em perguntar: “Como faço para
sair dessa biblioteca?”. Na primeira página que abriu, estava escrito: Acerte
essa charada: uma menina faz uns amigos nada comuns. Um espeta, um é macio e um
é duro. É este último que guarda a chave mágica. A garota achou aquela
charada um pouco estranha, mas pareceu uma história familiar. Nem foi preciso
quebrar a cabeça: ela logo lembrou do Mágico de Oz.
E disse: "Será que é
este livro que preciso encontrar?". Mas antes, resolveu dar mais uma
folheada em seu livro. E então descobriu que ali havia várias histórias
clássicas. A primeira que viu foi Alice no País das Maravilhas. Depois viu que
poderia ler ali O Três Porquinho. A historia seguinte era Peter Pan. Pareciam
historias demais para caber naquele único livro. Mas não esqueçam: ele era
mágico. finalmente, Helena chegou na página do Mágico de Oz.
Ela foi folheando até que
aparecesse a imagem do Homem de Lata. E qual a surpresa da menina quando viu
que na sua mão havia uma chave dourada. "E agora? Como irei tirar essa
chave da história?", pensou, tocando na chave desenhada. Assim que seu
dedinho encostou na ilustração, a chave libertou-se das mãos do Homem de Lata e
começou a bater suas asinhas. Helena, desesperada, achou que a chave fugiria
para dentro de algum outro livro e, num impulso, gritou: "Espere! Você
precisa me tirar daqui". E a chave, como se tivesse ouvidos, foi direto
até a porta, que abriu-se lentamente.
A menina, enfim, estava
livre. Ela havia descoberto mais que uma forma de sair da biblioteca: agora ela
tinha um esconderijo perfeito, um livro mágico, uma chave voadora e infinitas
histórias para conhecer.