segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A Índia da noite

 

Na linda floresta amazônica, próxima ao rio Purus, que fica na região norte do Amazonas, existia uma tribo chamada Apurinã.

Todos viviam em harmonia. Nesta tribo vivia uma bela jovem chamada Jaci que era gentil, amigável, curiosa, esperta e sempre alegre. Jaci era filha do cacique Kauê o líder da tribo. Ele era um homem bondoso, pensativo, responsável e respeitado por todos.

Nesta região, em volta do rio Purus tinham muitas aldeias e uma delas se chamava Yaminawá que era inimiga do povo Apurinã. As terras dessa aldeia eram mais férteis e produziam muita mandioca, a base da alimentação dos indígenas.

Num dia de primavera eles iniciaram a plantação, pois era noite de lua nova e eles acreditavam que nesta fase da lua a produção seria muito boa.

Mas o que eles não sabiam é que tinha alguém observando nos arbustos que chamou a atenção dos filhos caçulas de Kauê: Potira e Ararê que eram gêmeos e tinham 11 anos.

As duas crianças se aproximaram para ver se era um bicho da floresta ou outra coisa, mas o que elas descobriram foi um rapaz jovem com desenhos no corpo e com um olhar curioso. Quando viu que foi descoberto resolveu fugir correndo, mas acabou tropeçando numa pedra que o fez cair nas margens do rio.

Já estava anoitecendo e Jaci estava sentada perto do rio, esperando a chegada da lua, quando de repente ouviu um som de alguém caindo, e resolveu ver o que era. Ao se aproximar, viu um rapaz caído nas margens do rio, virou-o, e logo se apaixonou pelo belo rosto, porém percebeu que estava desmaiado e com um machucado na testa. A lua já estava brilhando e quando encostou no machucado dele, a ferida desapareceu e ela ficou aguardando ele acordar.

Este poder de cura foi descoberto aos 10 anos quando ia caminhar para apreciar a lua e neste caminho tinha visto um filhote de tatu com uma pata machucada. Ao encostar no machucado ficou surpresa pois ele havia sumido e foi aí que percebeu seu poder. Alguns falam que foi a deusa da lua que a escolheu para representa-la na terra.

Jaci ficou aguardando o rapaz acordar e já estava amanhecendo quando ouviu uma voz chamando por Iberê. Assustada, resolveu se esconder entre as arvores e ficou observando. Dois outros índios falavam com Iberê tentando acordá-lo e Jaci percebeu que falavam uma língua que nunca tinha ouvido afinal a língua que sua tribo usava era Maipure-Aruak. Foi aí que ela descobriu que o índio pelo qual se encantou era de uma tribo inimiga.

Ao voltar para a aldeia ainda pensava no belo jovem que socorreu e ficava imaginando se algum dia iria encontrá-lo de novo, mesmo sendo um grande risco. Quando chegou, viu seus irmãos correndo até ela dizendo que tinham visto um índio que estava espionando-os na plantação, Jaci contou tudo o que tinha acontecido e combinou que seria um segredo deles.

Numa noite que toda a tribo estava dormindo Jaci resolveu ir ao rio sem chamar atenção de ninguém, com a intenção de rever Iberê. Quando finalmente chegou ao seu lugar sentou-se numa pedra e resolveu cantar. No dia em que caiu, Iberê chegou a ouvir a voz de Jaci, mas não conseguia abrir os olhos para vê-la, e intrigado resolveu voltar ao local. Ao se aproximar, ouviu um canto e reconheceu o som daquela voz... ao se olharem se apaixonaram imediatamente. Para a surpresa de Jaci, Iberê sabia falar sua língua e passaram conversando até o sol raiar.

Ao voltar para a tribo, descobriu que um índio tinha a seguido e viu seu encontro com Iberê que era da tribo inimiga. Seu pai, que era o cacique estava com um olhar muito desapontado e chamou Jaci para conversar em sua paraka, local onde ele morava.

Kauê disse que ela correu um grande risco e que o índio da outra tribo poderia ter a machucado ou até mesmo matá-la e a proibiu de sair a noite. Jaci explicou ao seu pai que se apaixonou por aquele rapaz, porém sabia que era um amor proibido. Mesmo sabendo os riscos Jaci e Iberê se encontravam todas as noites a luz do luar. Era como se a lua os protegesse.

Já havia passado alguns meses e todos os apurinãs se preparavam para a Xinagné, a grande festa na qual que celebravam a morte de todos que pertenceram a tribo. Para esta festa todos se preparavam e cada um tinha uma função: As crianças e as mulheres colhiam as frutas características da floresta como cacau bravo, buriti, bacaba, açaí e pataua e faziam deliciosas sobremesas, já os homens caçam três dias antes da celebração.

Esta era a festa mais importante dos apurinãs pois nela, faziam as pazes com os inimigos e se perdoavam entre elas. Jaci percebeu era sua chance de ficar com o seu grande amor. Iberê foi aceito pela tribo e eles se casaram. Com o passar dos anos os dois tiveram um filho Kaique, que significa ave aquática em tupi.

Com o passar do tempo todos da tribo todos souberam do poder de cura da Jaci e essa notícia se espalhou por todo o mundo. Muitos forasteiros foram conferir se a história era verdadeira ou só um mito. Arthur foi um deles, um jovem jornalista de São Paulo da região sudeste. Ao chegar na tribo Apurinã, Arthur foi recebido por Iberê que o acompanhou por 15 dias.

Num dia de verão, Jaci e seu filho Kaique estavam colhendo açaís e de repente a bela moça sentiu uma coisa estranha dentro de si mesma, parecia uma grande dor nas articulações, enjoo e uma forte dor de cabeça. Seu filho percebeu o problema da mãe e resolveu levá-la para a paraka para deitar-se um pouco. Arthur ficou sabendo que Jaci não estava bem e foi vê-la. Pelos sintomas logo percebeu que ela estava com uma doença chamada malária e alertou Iberê. Ele queria saber mais sobre a doença e se tinha cura para salvá-la no mundo dos brancos, Arthur disse que o país estava em epidemia e estavam buscando a cura, no entanto ele sugeriu que Jaci usasse seus poderes de cura.

Iberê abaixou a cabeça e disse que não era possível, pois Jaci não curava a si mesma, apenas os outros. Nesta mesma noite a bela jovem morreu deixando toda tribo em lagrimas.

Alguns diziam que todas as noites na floresta amazônica a tribo Apurinã ia para o local onde a Jaci ficava e rezavam para agradecer a deusa da lua por ter criado uma jovem gentil e amável e por cuidar das plantações. Na lenda dizia que a alma de Jaci estava na lua observando toda a floresta e foi assim que surgiu o mito da Índia da noite

Cutupi

 


Cutupi é um novo personagem do folclore brasileiro, criada pela autora e artista Júlia Malc em meados do século XXI. 


Alguns dizem que ele surgiu pela magia de Curupira e Caipora, enquanto outros acreditam que nasceu em um dos brotos de Mentha piperita, planta importada pelos portugueses para ser comercializada no Brasil. No entanto, o que eles não sabiam era que de um desses brotos nasceria uma criatura. 


Cutupi é uma criatura que tem aproximadamente 50 cm de altura, com o corpo coberto de pelos verdes e um cheiro de menta. Ele possui três olhos, sendo um deles capaz de ver no escuro, e quatro orelhas, que lhe permitem escutar conversas ou barulhos feitos pelas crianças. Cutupi tem o poder de transformar os sonhos das crianças malcriadas em terríveis pesadelos e de causar alucinações em adultos abusivos com crianças e mulheres. Ele se esconde em brinquedos, gavetas ou embaixo da cama e, para os adultos, disfarça-se como um velho anão. 


A lenda conta a história de um menino de 11 anos chamado Pablo, que era malcriado com sua família e amigos. Ele xingava, quebrava objetos, maltratava animais, destruía a natureza e, principalmente, fazia mal ao seu irmão Francesco, de apenas 4 anos. Isso incluía quebrar seus brinquedos, estragar seus desenhos da creche e rejeitar seus presentes e carinho. Francesco, o caçula da família, era considerado um anjo por ser gentil, respeitar os animais e a natureza, e dar carinho à sua família, o que despertava ciúmes em Pablo.


Em uma noite escura, os pais dos meninos saíram para uma reunião e chamaram a vizinha, Dona Otávia, para cuidar das crianças. Ela preparou uma deliciosa janta, mas Pablo jogou a comida no chão, dizendo que ela era uma péssima cozinheira, o que a deixou muito triste. Na hora de dormir, Dona Otávia resolveu contar a lenda do Cutupi, mas Pablo achou a história absurda e não acreditou, ao contrário de seu irmão, que ficou tremendo de medo. À meia-noite, a casa estava em silêncio quando, de repente, Pablo ouviu uma estranha risadinha. Ao abrir os olhos, viu três luzes no escuro. Pegou sua lanterna e, ao acendê-la, deparou-se com a criatura, que tinha uma expressão de raiva. Cutupi disse a Pablo que ele era uma criança malcriada, que maltratava seu irmão em vez de amá-lo e não acreditara na história que Dona Otávia havia contado. Pablo ficou paralisado de medo, ouvindo o que Cutupi tinha a dizer. 


Cutupi então o amaldiçoou, dizendo que, enquanto continuasse maltratando seu irmão, ele teria pesadelos. Essa maldição só terminaria quando ele aprendesse a ser uma boa criança. 


Por muito tempo, Pablo teve muitos pesadelos, mas aos poucos começou a melhorar seu comportamento. Ele percebeu que, ao mudar suas atitudes, as pessoas se aproximavam mais dele e queriam ser suas amigas. Com o tempo, Pablo se tornou um bom homem e, sempre que encontrava uma criança malcriada, contava a lenda do Cutupi.


Da mesma forma, a lenda de Cutupi também alcançou Miguel, um homem cruel e abusivo, que maltratava sua esposa e filha com agressões verbais e físicas. Isso sempre acontecia quando ele chegava em casa após o trabalho. Certo dia, ao se aproximar de casa, Miguel sentiu uma estranha dor de cabeça e começou a ver sombras segurando cintas e indo em sua direção, gritando e agredindo-o. De repente, tudo escureceu. Ao acordar, ele estava em casa com sua esposa e filha, que o observavam com preocupação. Sua esposa explicou que um anão o havia encontrado desmaiado na rua e, ao ser levado para dentro, o anão misteriosamente desapareceu. 


Ao longo do dia, Miguel continuou sendo rude com sua família, exigindo trabalhos domésticos e reclamando da comida que sua esposa havia preparado. À noite, com a dor de cabeça persistente, ele foi até a cozinha pegar um copo d'água quando ouviu sussurros estranhos vindos do lado mais escuro da casa. Ele seguiu as vozes e, à medida que se aproximava, os gritos aumentavam e as sombras que vira antes reapareceram, agora com expressões de raiva. Tudo ficou escuro novamente, e Miguel viu três luzes estranhas se aproximando. Era Cutupi!


A criatura, com seu corpo coberto de pelos verdes, seus três olhos brilhantes e o cheiro de menta, deixou Miguel incomodado. Cutupi disse que o observava havia muito tempo e sabia como ele tratava sua família. Miguel riu das palavras da criatura e tentou dar-lhe um soco, mas Cutupi desviou com facilidade, deixando o homem surpreso. O pequeno ser então advertiu que, se Miguel continuasse a maltratar sua família, teria alucinações do passado para o resto da vida. Assustado, Miguel prometeu tentar melhorar.


Na manhã seguinte, Miguel acordou com o sol entrando pela janela. Ele viu sua esposa e filha com expressões de medo e, tomado pela emoção, começou a chorar, abraçando-as e pedindo desculpas por todas as suas atitudes ruins. Ele prometeu que, a partir daquele dia, mudaria seu comportamento. Com o tempo, Miguel se tornou um homem bom e, sempre que tinha oportunidade, contava a lenda do Cutupi para seus netos, que ouviam atentamente as histórias de seu avô querido.


E assim é a lenda de Cutupi. Quem mais gostaria de ouvir?

Uma noite entre as estrelas

  Numa noite e estrelada na floresta, uma jovem mulher observava as estrelas com um telescópio, mas mal sabia que uma criatura de olhos verm...