quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Uma estrela chamada Toby

No momento que conheci os Barbosa, era véspera de Natal, estava meio nervoso de conhecer uma nova família. O lugar parecia um palácio com aquelas luzes piscando numa árvore e os enfeites vermelhos e verdes por onde eu olhava.

Naquele dia me diverti muito, recebi carinho e amor, mas tinha uma garotinha que sempre ficava ao meu lado, ela se chamava Júlia. Ela tinha cabelos castanhos e cacheados, olhos com a cor da terra, pele clara como da Branca de Neve e cheirava a morango. Júlia era como uma mamãe, ela passeava comigo, me alimentava, inclusive me dava pedacinhos de pizza, cenouras e pão. Eu adorava quando fazia isso! Tinha também dois adultos, e Júlia sempre os chamava de mãe e pai. Josiane era a dona do palácio, era uma mulher alta, cabelos curtos, olhos castanhos e esverdeados e sempre com seus óculos magníficos. Ela era meio mandona e sempre estava de olho em nós dois, principalmente quando a gente aprontava ou quebrava as coisas, mas sabíamos que era por amor. Janiro era um homem barbudo, e cabelos pouco escuros, também usava óculos. Era engraçado e alegre, e Júlia sempre ria quando inventava uma brincadeira ou quando escrevia umas músicas para ela. Ele tocava violão muito bem, e quando começava eu entrava no paraíso das melodias.

Algumas vezes no ano, principalmente quando a Júlia não ia para a escola, nos sábados e feriados, íamos para um lugar incrível que chamavam de praia. Quando eles arrumavam as malas eu ficava seguindo, esperando que arrumassem as minhas, afinal nunca deixaria meu paninho e meus brinquedos, o cachorrinho roxo era meu predileto, porque falava comigo quando eu o mordia, mas com amor. Malas prontas, viagem à vista. No caminho, meu tapetinho esperava para tirar um cochilo. Chegando lá entravamos numa casa grande, não havia elevador, portaria, salão de festa e tinha uma coisa que eu amava: uma poça enorme azul que depois descobri que chamavam ela de piscina. Quando a gente andava de bicicleta, eu ia na cestinha marrom da Júlia, sentido o vendo tocando no meu pelo, como era bom sentir essa sensação, mas o melhor estava por vir. Era um lugar cheio de areia e água, aonde todo mundo ia para descansar, tomar sorvete, nadar, construir castelos de areia e tomar banho de sol: a praia. Lá a gente celebrava aniversários e datas comemorativas, mas tinha uma que me dava arrepios, pois era barulhenta e sempre acontecia todos os finais de ano: Ano Novo.

Quantos momentos passamos juntos e felizes, eu tinha orgulho de fazer parte daquela família, ela era a minha família. Numa certa noite eu estava me sentindo estranho, cansado, fraco, sem fome e sede, eu achei que passaria logo então resolvi ficar quietinho, só observando minha família, tendo planos para o ano e sentido como eu amava cada um deles. Mas aquela sensação não passava e Júlia foi a única que percebeu meu estado e chamou seus pais para me levarem para o médico. Os dois também eram médicos, mas só cuidavam de pessoas, então eu fui. Ao ver o médico segurando aquela seringa me deu até um alívio, pois sabia que iria ficar tudo bem, afinal sempre foi assim, mas desta vez foi diferente. Quando fechei os olhos ficou escuro, e quando abri eu estava num gramado florido e atras tinham vários cachorros brincando alegremente e um deles foi até mim, ele era alto, coberto de pelos brancos e encaracolados. E me disse:

- Olá Toby, é um prazer conhecê-lo pessoalmente, eu já te conheço, mas você não sabe quem sou, então vou me apresentar: Eu me chamo Nico Malc Barbosa.

Fiquei pensando, eu também sou um Malc Barbosa! Não entendia o que estava acontecendo. Mas Nico continuou falando.

- Eu sei, também fiz parte desta família por 7 anos e conheci a Júlia quando era um bebezinho, e foram ótimos momentos. Você deve estar meio confuso, mas deixe que eu explico melhor.

Neste momento, perguntei que lugar era aquele e onde estava a minha família, queria voltar para casa. Nico então me levou para casa, o céu estava nublado e ouvi choros, mas por que choravam daquele jeito? Eu tentei chamá-los, porém não ouviam, parecia que eu estava invisível. E foi neste momento que percebi o que estava acontecendo. Queria que fosse um pesadelo e logo eu acordaria para aliviar aquela dor. Foram dias tristes, e sabia que era por minha causa. Queria que eles soubessem que eu estava bem e o lugar onde eu estava tinham com árvores, flores e praia, tudo que a gente gostava. Ao passar dos dias, fiquei observando-os e tentando aliviar a dor, e numa sexta feira tarde a casa se alegrou novamente, pois meu papai, fez uma surpresa: Nino chegou!

Este filhote é da mesma raça que a minha e até um pouco parecido comigo, mas é diferente, pois faz bagunça pela casa toda, mas logo ele vai aprender, afinal de contas esta família sabe ensinar com muito amor. E tenho certeza de que este rapazinho vai cuidar bem deles e eu estarei sempre junto.


 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O amor intocável

 

Há muito tempo na floresta Amazônica as flores e as árvores nunca morriam, estavam sempre coloridas, os frutos maduros para alimentar os animais que viviam por lá até a chegada do Anhangé.

Samaúma, a árvore mais alta da floresta que mede entre 60 e 90 metros de altura, é considerada a rainha da Amazônia e mãe de Potiara, a deusa das Flores. Certo dia, Samaúma percebeu que em um de seus galhos tinham muitas flores diferentes das que costumava ver. Passou dias e dias observando aquelas flores até que uma luz apareceu entre elas, e uma bela jovem de cabelos floridos e coloridos, com olhos brilhantes da cor das folhas, surgiu. Samaúma ficou emocionada ao ver tanta beleza em seus galhos e logo agradeceu a Tupã pelo presente recebido. A jovem foi nomeada de Potiara que na língua indígena significa flor graciosa, pois Potiara significa flor e Ayra graciosa. No início do Planeta Terra, só existia verão e inverno, e com o nascimento de Potiara, Samaúma percebeu que entre as duas estações, a Floresta Amazônica ficava mais colorida, cheia de flores e de vida, borboletas voando e pássaros cantando. Foi assim que surgiu a Primavera.

Enquanto isso no submundo Anhangá, o deus do mundo inferior, começou a se incomodar com a nova estação, pois ela trazia alegria ao mundo dos mortais os quais, Anhangá não conseguia levar para seu mundo. Pensando em uma solução de como trazer mais almas da litosfera, nasceu Anhangé que ficou conhecido como Ceifador. Seu nome é uma mistura de Anhanguera que significa fantasma e Bagé solitário. Anhangé surgiu de uma montanha de ossos que saía de fumaça preta dos crânios de animais que ali se encontravam. O jovem imortal sempre pensava como era o mundo dos vivos, mas seu pai nunca o deixava ir, pois acreditava que seu filho ainda precisava aprender como o mundo superior funcionava. Com o passar dos anos chegou a hora tão esperada: Anhangé conhecer a terra dos mortais.

Ao chegar, ficou surpreso de ver tanta beleza, tantas cores e alegria, afinal seu mundo era escuro, sombrio e triste. Enquanto ouvia os pássaros cantando, percebeu que algo se aproximava e resolveu se esconder nos arbustos. Ficou por horas observando a beleza e delicadeza daquele ser que por onde caminhava, mais flores surgiam. De repente, Anhangé se desequilibrou quebrando alguns gravetos o que chamou a atenção da deusa, que ao se aproximar do arbusto, percebeu que ele estava seco e sem vida e achou estranho, afinal isto nunca havia acontecido desde seu nascimento.

Quando se aproximou, Potiara se assustou ao ver aquele rosto branco em formato de caveira, olhos azuis claros e brilhantes,olhando fixamente para ela, pele escura como as cinzas e cabelos lisos e brancos. Rapidamente Anhangé cobriu seu rosto com vergonha por tê-la assustado, porém a doce imortal chegou perto do Ceifador dizendo que não precisava ter medo ou vergonha querendo saber de onde ele vinha, pois nunca tinha o visto por aquelas matas.

Anhangé, que ainda não se sentia seguro em falar de sua origem, propôs a Potiara que lhe apresentasse a beleza da floresta e os dois caminharam e conversaram até a noite chegar. Ele ficou maravilhado ao ver as estrelas e a lua brilhando no céu e se perguntou: por que seu pai nunca tinha falado da beleza desse mundo? O deus do submundo sempre dizia que lá em cima só tinha alegria em vez de tristeza e tortura, haviam flores ao invés de ossos, haviam cores ao invés de escuridão e havia vida em vez da morte. Por que então era tão ruim? Anhangé não conseguia entender por que seu pai odiava tudo aquilo, e por alguns instantes se sentiu culpado de estar amando aquele mundo e pior, de estar apaixonado.

Por dias e dias os dois se encontravam na mesma hora e no mesmo local e ficavam conversando e rindo de suas histórias e brincadeiras até que Anhangé resolveu presentia-la com uma flor que tinha visto, mas quando a tocou, ela secou rapidamente e ao se assustar, deu um pulo de susto tocando em uma árvore que apodreceu no mesmo instante. Foi aí que Anhangé percebeu que o toque dele poderia destruir a floresta e logo se entristeceu, porque jamais poderia tocar em seu amor.

Ao amanhecer, Potiara esperou o Ceifador, que não apareceu e isso a deixou preocupada, então resolveu procurá-lo. Ao caminhar pela mata, percebeu uma trilha de flores e folhas mortas e sempre muito curiosa, resolveu seguir a trilha que acabava na Pedra Pintada. Essa pedra é uma das mais antigas da Floresta Amazônica e possui arte rupestre, que são desenhos feitos pelos homens primitivos. Quando tocou nas pinturas, um portal se abriu, ela entrou e rapidamente a passagem se fechou. Começou a ouvir gritos e choros e quando viu o outro mundo com seus próprios olhos ficou aterrorizada: tudo era escuro, chamas roxas por todo lado, um rio cheio de almas sofrendo e pedindo ajuda e demônios assustadores com risadas macabras. Será mesmo que Anhangé viveria naquele lugar, pois ele era tão gentil e doce?

Ela continuou a caminhar em busca de seu amado e finalmente o encontrou sentado numa pedra próximo ao Rio das Lamúrias. Quando Anhangé a viu, ficou assustado e pareceu não acreditar no que estava em frente aos seus olhos. Ele se levantou da pedra e foi até ela dizendo que não deveria estar ali, que era um lugar perigoso e que seu pai não poderia vê-la senão sugaria sua alma e ficaria presa para sempre naquele lugar sem vida.

Potiara, com as lágrimas nos olhos, disse que estava apaixonada e que aceitava correr o risco se fosse para ficar com ele.

Cheia de empolgação, a deusa das Flores o beijou em seus lábios e ele completo de amor retribuiu. Ao abrir os olhos viu sua amada completamente pálida, sem seus belos cabelos floridos e magra como um graveto seco. O filho do Submundo ficou desesperado e a abraçou. No mesmo, instante, o que restava de Potiara virou pó e se formou um redemoinho que subiu ao mundo dos mortais. O Ceifador começou a chorar, o que causou uma enorme tempestade no mundo dos mortais, deixando toda a Amazônia alagada e fazendo os animas se assustarem com os raios, ventos e trovões. Quando a tempestade terminou, ainda estava noite e uma linda flor surgiu no meio do caos, próximos aos pés de Anhangé.

Ele percebeu que sua amada deusa tinha se transformado em uma bela flor, ao qual deu o nome de Dama da Noite. Depois desse acontecimento, o Ceifador passou a sair do submundo todos os dias nas madrugadas, para visitar sua linda flor, porém ela só florescia uma vez ao ano no final da primavera e início do verão. Anhangé, mesmo sabendo disso, continuou a visitar sua preciosa deusa florida, esperando que se abrisse para ele.

E assim termina a linda história desse amor intocável!!!

Uma noite entre as estrelas

  Numa noite e estrelada na floresta, uma jovem mulher observava as estrelas com um telescópio, mas mal sabia que uma criatura de olhos verm...