sexta-feira, 9 de junho de 2017

O sofrimento de Celina


Celina morava sozinha em uma casinha velha, escura e com cheiro de mofo. Seus pais haviam morrido quando ela ainda era bebê. Quem a criou foi uma tia velha e muito mandona. Passava o dia dando ordens à Celina.

– Limpe essa chaminé! Passe um pano no sofá.

Porém, os móveis de casa eram tão velhos, que por mais que Celina limpasse, tudo continuava com cheiro que parecia cheiro de morte. Como a tia precisava dos trabalhos da menina, nunca a deixou frequentar a escola. Como uma criança normal. Por conta disso, ela nunca teve nenhum colega. Pior que isso: nem amigos da rua ela conseguia fazer, pois a casinha de sua tia era afastada de qualquer outro sinal de vida.

Quando a velha tia deu de cara com a caveira assustadora da morte, a menina ficou livre do trabalho escravo e pôde finalmente ir à escola pela primeira vez. No primeiro dia aula, Celina estava ansiosa para encontrar crianças de sua idade e fazer alguma amizade. Mas o que ela não esperava era que ninguém quisesse se aproximar dela. Todos a olhavam com uma cara estranha, como se estivessem vendo um ser de outro mundo. E cochichavam: "Credo! Olha as roupas dela! Parece panos de chão". "E esse cabelo mal lavado? Parece mais uma vassoura!". "Olha a pele dela! Parece suja de lama". Eram crianças preconceituosas.

Celina percebeu que seria muito difícil encontrar algum amigo naquele lugar. "Essas crianças frequentam a escola há tanto tempo e ainda não aprenderam a ser gentis? ", pensou Celina. Bem que ela tentou puxar conversa com alguns colegas, mas nenhuma tentativa deu certo. Seu coração estava partido. Agora ela se sentia mais solitária que nunca. Agora ela não tinha mais nem a esperança de um dia encontrar alguém que gostasse dela.

Percebia as crianças rindo o tempo todo. E sabia que riam dela. Então Celina começou a ter pensamentos sangrentos. Imaginava como cada uma daquelas crianças ficaria com seus olhos explodindo e vomitando sangue.

Ela começou a ficar com medo que esses pensamentos se transformassem em assassinatos, pois não queria machucar ninguém. Então pegou uma arma que encontrou no quarto da tia e atirou na própria cabeça. Pedaços de cérebro foram espalhados pela parede da velha casa.

Celina então escutou uma voz doce dizendo: "Filha, que sono agitado! Está tendo algum pesadelo?". Celina acordou aliviada e contou à mãe o sonho horrível que tinha tido. A mãe a acalmou e as duas partiram animadas para começar mais um dia alegre e cheio de descobertas.

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